quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

bom dia, senhor courbet .. resumo



ÉTICA - Bom dia, Senhor Courbet!
Adauto Novaes (org.)

Geralmente as discussões sobre as obras encontram suas questões nas relações entre o subjetivo e o objetivo; entre o que é biografia individual ou a pintura propriamente dita. Há também a discussão sobre obras que despertam e que solicitam de nós sensações e sentimentos para que, enfim, sejam apreciadas.
David foi um artista que celebrou a revolução francesa e o império napoleônico; Delacroix pintou a liberdade política e Courbet .. Courbet está na marginalidade, no que ainda não tem valor constituído. À arte de Courbet atribuem a estética realista, embora não exista nele a ideia de uma objetivação do real/não tome o real enquanto algo autônomo.
O campo da marginalidade é o território de eleição, um território privilegiado em relação ao dos outros homens.  O artista marginal é aquele que não deve mais nada nem ao mundo, nem a ninguém, a não ser a si próprio! Ele está acima dos outros homens e isso faz com que ele seja obrigado a construir uma ética para si.
Courbet, portanto, é autônomo. Está cagando e andando para os outros. Quer causar, faz o que sente vontade. Diz que “todo artista deve ser o seu próprio mestre”, botando pra fora todas as suas individualidades ao passo que assume “a plena liberdade de sua expressão própria”.
Courbet não curte instituições. Não curte escolas. Não curte academicismos. Não curte um monte de coisas, no entanto isso não faz dele um “mero espontâneo”. Há em Courbet a ideia da arte ligada à fabricação, e nela está subentendido o domínio dos processos que levam à realização do objeto artístico.
O artista, ainda,  grita a quatro cantos a ruptura com as instituições e com as tradições culturais imperantes. Mas que tradições seriam essas? As clássicas (Courbet recusa o belo ideal, aquela referência greco-romana) e as românticas (o imaginário, literário, o sentimental ..). Courbet na real tem horror ao ideal e ao imaginário. Para ele, as formas da cultura são convencionais, superficiais, supérfluas e enganadoras.
Mas se Courbet recusa o imaginário, instituições, a cultura, o ideal e a pedagogia (“todo artista é mestre de si”, logo Courbet jamé poderia ensinar algo a alguém) .. que que sobra?? Bom, resta a ética da simplicidade e a ética do olho.
Para Courbet, o artista só pode retratar o que está ao seu alcance (“eu pinto o que eu vejo” – o privilégio do olhar vinculado a uma individualidade) e isto num sentido profundo de conhecimento íntimo, de vivido. Assim, “a cultura do meu olho é determinado pela cultura a qual pertenço, por aquilo o qual eu estou, verdadeiramente, familiarizado”. (OBS.: estas não são citações de Courbet, mas sim interferências do cara que escreveu esse baguio sobre Courbet).
Carinha simpático esse Courbet, não é mesmo? E qual é a do universo dele? Que que compõe o seu universo? Bem, guarde aí: ele mesmo, as mulheres, a natureza (mas em paisagens que ele manja, que ele conhece) e os camponeses (os que ele conhece, os que são da sua região).
Esse universo deve ser pintado eliminando todo o sentimentalismo e toda a eloquência. O olhar deve ser simples, deve tratar, sem efeitos fáceis e com grande fidelidade, aquilo que ele está representando.
Tá, mas já que esse modelo de artista sugerido por Courbet deve fazer sua própria ética, qual seria a ética da marginalidade, afinal de contas?
Para Courbet, é central na ética desse artista é o papel atribuído ao próprio artista. Nesta ética, o artista é o pica das galáxias e tem muito mais importância do que o objeto artístico. Assim, os camponeses que ele pinta não são importantes aos seus olhos porque simplesmente eles são apenas os camponeses. No entanto, a importância mora no fato de que eles existem artisticamente por um ato instaurador que saiu do artista. Logo, não se trata da ética da arte, mas, sim, da ética do artista.
Somando a essa figurinha marota, devo dizer que Courbet causava. Era um figurão narciso, autoglorificava-se e se colocava em evidência sempre que achava a oportunidade. O corpo era importante para Courbet, ainda mais porque desde sempre ele era  gatão, mas aí depois ele fica meio gordinho e vira chacota dos migos, rendendo uma penca de caricaturas e de descrições horripilantes dele. Pois é, o bullying foi pesado!
Caramba, que cara chato .. mó narcisão. Pois é! Mas Courbet era esperto e se valia de seu narcisismo enquanto instrumento afirmador do lugar, ao mesmo tempo marginal e superior, do artista. Então ele é bem narciso mesmo na pintura, mas se ele não fosse desse jeitinho muito não teria sido discutido em relação à figura do artista. E talvez aqui esteja o lado bom da Sabrina (hehe :-p)
Quer exemplo disso? Têm altas pinturas de Courbet em que ele se representava sendo o fodão da parada em relação ao público que o apreciava, mas sempre naquele esquema: pintando apenas o que ele via.
Há uma pintura em específico, a “Bom dia, senhor Courbet!”, que demonstra legal essa questão. Duas pessoas (que representam o publico. E é um publico conhecido) tão pagando mó pau pra ele. E Courbet tava lá, suavão, andando à pé, em sua maior autonomia, indo pronde queria ir. No entanto, alguns estudos encontraram uma referência legal dessa pintura, sugerindo que a mesma fora inspirada em outra bem similar, que já existia. Nessa outra pintura (que é uma gravura), um judeu errante estava na mesma posição que Courbet, insinuando que era assim que o artista se sentia: ”um personagem que não tem o seu lugar, que está fora da sociedade, que é vagabundo, que está À MARGEM dela”.
Assim, Courbet bate o pé e confirma que, para ele, o artista é sim um marginal.
No entanto, porém, contudo, todavia, o que diferencia Courbet dessa outra pintura em específico, é que Courbet não se enxerga apenas como um artista marginal, não. Mas sim como um artista marginal que é zicão, superior. Portanto, ele é obrigado a estabelecer uma ética de fidelidade à sua arte, isto é, renunciar o próprio lugar no mundo porque sabe que o seu lugar está no universo elevado da arte, e ela vale o seu sacrifício!
No século XIX houve um considerável processo de transformação do papel do artista que rola logo depois que David fica famosão/poderoso. Courbet, então, será o primeiro a encarar a produção artística como algo independente, livre do poder e das instituições e de qualquer ética que não seja a própria do artista.
Ao traçar esse terreno marginal, estabelece-se o lugar (ou o não-lugar) do artista de vanguarda, tendo estes surgindo logo após ele. Estes artistas serão mais radicais, a ponto de ignorar o mundo ou sacrificar a razão, a vida, pela atividade artística, como por exemplo Gauguin, Van Gogh e Cézanne.
Quer mais exemplos da fodice de Courbet?
Courbet, ao recusar uma oferta dum trampo lá de Napoleão, redigiu um dos maiores documentos que retratam a "dignidade humana", tendo em vista que o artista teve a moralzinha de negar o $ e reconhecimento de um Estado que cagava e andava pra arte. Se Courbet aceitasse, caíria por terra tudo o que ele pensava sobre a figura do artista.
Nesta carta, Courbet diz: “Tenho 50 anos e sempre vivi livre; quando morrer, quero que digam de mim: aquele nunca pertenceu a nenhuma escola, a nenhuma Igreja, a nenhuma instituição, a nenhuma academia, sobretudo a nenhum regime, a não ser o regime da liberdade".

Courbet, zica memo, eim?

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