segunda-feira, 29 de novembro de 2021

a ultima poesia (julho de 2021)

o corpo virô repelente de palavra
já faz um tempo que num escrevo e que só fico de trabaiá
mas o trabai é um trem que me arruma felicidade ..
hoje tive notícia dos oto
e lembrei como é bão fazê parte da história de algumas pessoa
há alguns dia recebi tanto carim que num teve jeito de num me lembrá de mim e dos meu acontecido.
como terapeuta ocupacional, empresto meu corpo
uso dum jeito desarrumado afetos ..
mexo em tudo que é verbo do corpo e do oiá
cutuco os imprevisto, contano cas suas aparição.
oto dia encostei em alguém
e já viramo um novo dia ..
o mal do homi
é achar que tá tudo acabado demais ..


zuba

quinta-feira, 29 de julho de 2021

atualizações duma vida que num brecou

muita coisa rolou nos últimos meses ..

atualmente tô trampando num caps infantojuvenil aqui perto de casa, to em fase de conhecimento, ainda me entrosando com a galera .. sinto a necessidade de estacionar por um tempo para aprender um pouco mais sobre esse trampo na saúde mental num serviço da raps.

no mais, sou ainda muito apegada à rede e às histórias que acompanhei na leste. hoje uma defensora disse que fui lembrada com carim por i, quando questionado sobre em quem confiava. é tão bão deixar essas marcas e não permitir que elas se percam no tempo. 

há ainda muito trabaio a ser feito.

ler esta mensagem foi o incentivo que precisava para seguir com minha proposta de mestrado, que anda aos trancos e barrancos (pelo menos acabei de finalizar o ultimo trabalho para disciplina obrigatoria).

mas ultimamente é o caso de e. que tem mexido muito comigo.

e. é um jovem de 18 anos com diagnostico de esquizofrenia. ele tem alucinações auditivas que tem se intensificado nos ultimos meses. no momento, encontra-se confinado em casa, apenas rezando e repetindo estar confuso demais pra viver ou experimentar qualquer coisa nova, diferente ..

hoje liguei pra ele .. foi a primeira vez que a conversa foi com pausas. estava angustiado, com pressa para desligar, mas também com vontade de seguir com algum padrão de vida que se permite encontrar.

ele mexe comigo ..

é super crítico, diz que uma de suas maiores qualidades "é entender da vida" .. e brinco com ele, pedindo pra que "não queira entender demais .. senão fica chato".

desta vez ele nem riu.

estive pensando em casos que acompanhei ainda antes de me formar como terapeuta ocupacional. eu tenho a marca de me envolver demais e tento manter um olhar crítico sobre isso .. sobre limites terapeuticos e sobre como por vezes eu ultrapasso significativamente essas bordas.

eu me misturo no processo .. criamos, juntos, afetos, e aprendemos com eles.

há a permissão para que o imprevisivel aconteça, contando sobretudo com ele.

eu uso meu corpo, eu empresto meu corpo de terapeuta para que a pessoa descubra e se lance ao mundo, às outras pessoas. para transpor uma barreira que tá ali.

na ultima sexta, saí com e.

falei: hoje não vamos ficar aqui. vamos sair.

fazia mais de um mês que ele não saia de casa para andar na rua.

tomamos sol. por fim, ele aceitou tomar sorvete e se viu conversando sobre outras coisas que não as vozes. reconheceu, da propria boca, a sua força. "elas pedem para fazer coisas ruins, mas eu não faço".

por um tempo, a realidade acontecia fora de sua mente ..

na segunda, foi à academia.

na terça, não conseguiu subir ao consultório médico.

na quinta, não conseguia falar comigo.

e agora não consigo parar de pensar nele.


zuba


quarta-feira, 21 de abril de 2021

lembranças de um abril de 2016

quando ocê caiu na graça das nuve, o chão de cá se arrumou .. 

cores, sons, vento, oiares tão cheios .. comé que a gente vai falar de dor?

agora ficaqui .. oiando num pouso bão as suculentas pequenices da vida que ficam fazendo de piquenique o coração .. penduro o zói em agradecimento e vejo ocê rabiscar aí do céu as mió lição do mundo .. crescendo nimim a certeza de que a vida é como alguém que mora dendagente.

me diga se a dor num perde inté as propriedade??


zuba


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

inquietações residência inclusiva

escrevo esta mensagem como desabafo e infelizmente a deixo restrita a algumas pessoas de minha rede ciente de que sua divulgação indiscriminada pode trazer alguns prejuízos de ordem profissional, o que pode não ser interessante no momento. portanto, peço que entendam meu posicionamento ..

🌻 em 2020 trampamo pa dedeu! 🌻

um trampo inspirador, que me roubou palavras .. por diversas vezes me vi incapaz de nomear a potência do que foi construído, inda mais considerando o contexto de pandemia. aprendemos experimentando. confiamos na experiência e avançamos em muitos pontos.

ceis têm noção do que é manter em isolamento social 20 pessoas com deficiência que já tinham uma vivência na rua ou então que passaram a vida toda trancadas e que só agora começavam a acessar seu direito à cidade?

mano, mó responsa ..

escrevi sobre isso ainda em março, sobre como era essencial que o isolamento fizesse sentido como medida de saúde pública e não como reprodução de um modelo asilar que por décadas confinou esses corpos. era um trampo de todo dia, o dia todo.

mas conseguimos!

chegamos em dezembro com uma pá de rolê pra celebrar! 

em termos de equipe, o trampo fluía dum jeito que deixava com gostim de quero mais. eu trampando 12 horas por dia em dois emprego e só conseguia pensar em como num conseguiria não amarrar o serviço em 2021. eu num poderia não participar do que estava por vir ..

dentre as ações realizadas, ampliamos sobretudo espaços de discussão, cumprindo com um cronograma super importante de escuta dos demais funcionários, validando seus saberes e colocando tudo isso pra girar, dando continuidade ao trabalho, deixando tudo coeso entre todos os plantões. diálogo forte, discurso de unidade. todo mundo sabia de tudo, algo muito difícil de se conseguir num equipamento que num para nunca e que se divide em duas casas.

já oiando pros usuários do serviço, praticamente sem casos de violência ou heteroagressão durante todos os meses do ano, um marco em se tratando de pessoas que em sua maioria possuem um histórico forte de violência, rupturas e abandono.

ampliamos, com eles, protagonismo e poder de decisão dentro da casa, foram feitas assembléias para que eles mesmos propusessem e discutissem as regras. criaram, namoraram, aprenderam a paquerar virtualmente, assumiram sua sexualidade, descobriram que era possível conversar quando a barra apertava. juntaram e gastaram dinheiro, alguns pela primeira vez na vida.

procuraram emprego, conseguiram trabaiar. finalmente um deles topou fazer acompanhamento psicológico, algo decisivo para seu projeto de cuidado.

descobrimos familiares, contestamos decisões judiciais, reaproximamos da família, fortalecemos incrivelmente a rede, que agora nos conhecia e nos reconhecia. que nos procurava, que nos referenciava. aparecemos, finalmente!

que trampo maravioso tive o privilégio de fazer parte.

uma pena que a própria rede assistencial não se leva a sério, e acho que é por isso que o trampo na assistência nunca vai pra frente. ele não se óia, ele não se percebe como potente, não identifica sua função e compromisso ético, técnico e político. 

eu não trabaio por amor. eu trabaio pruma política pública e componho uma equipe multidisciplinar pra fazer valer os direitos dessas pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade.

eu não sou paga pra fazer carinho. eu sou paga, com dinheiro público, pra fazer essa galera experimentar a vida dum outro jeito. pra que se assustem com os "sim". pra que num se sosseguem nos "não", sempre muitos ..

sou paga pra que se confundam com as próprias possibilidades.

e infelizmente todo esse trampo não é valorizado. pelo contrário, fomos atacadas por quem também deveria tá implicado cem por cento nesse processo.

nosso trampo foi boicotado sob a alegação de estarmos regredindo com o serviço. tudo o que fizemos esse ano foi reduzido a nada, resultando na demissão extremamente arbitrária de uma colega que tava lá mil grau fazendo o rolê ir pra frente, inspirada e inspirando.

minha aliada no dia a dia, nos planos, nas discussões ali dentro .. sempre tão urgentes.

sua demissão não foi pautada, não foi discutida em equipe. de férias, se não fossemos hoje amigas, ficaria sabendo de seu desligamento através de grupos de whatsapp, dos quais ela foi excluída sem ao menos ter a oportunidade de se despedir, dando a impressão de que havia cometido algo muito grave no contexto do serviço, o que é no mínimo inadmissível e injusto com o trampo daora que ela construiu ali dentro por quase dois anos, complementando nossas ações no dia a dia com sua visão técnica e sua grande habilidade em discutir casos complexos e manejar situações de conflito, inclusive dentro da própria equipe.

desde então num me vejo quieta ..

entendo que meu cargo está em risco, e por isso tento me resguardar dentro do possível, no entanto acho importante me posicionar também por aqui como uma forma de dar vazão a esse sentimento horrível de impotencia que tô sentindo e que só se junta com mais um tanto de bosta dentro desse ano maleducado que nois tá teno que enfrentar com força misteriosa.

é um desabafo importante ..

num penso em desistir porque me sinto provocada por esse novo cenário .. mas é sempre muito triste quando trabaiam contra por pura vaidade, ignorância e medo. 

e no final, quem perde é quem sempre perdeu, fazeno igual essa história que nois insiste em querer fazer diferente ..

resistimos! ✊


zuba