domingo, 27 de julho de 2014

terça-feira, 22 de julho de 2014

eu me saio eu me entro




''Não sei quantas almas tenho
Cada momento mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi nem acabei
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é.
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem.

Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li 
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu."


Fernando Pessoa


segunda-feira, 14 de julho de 2014

pra sempre



um dia eu descobri que tem trem que num para
música que não cala
e olho que num fala

um dia eu descobri que tem trem que num cala
música que não fala
e olho que num para

um dia eu descobri que tem trem que num fala
música que não para
e olho que num cala

um dia eu descobri que dá pra ser pra sempre
porque acabar
é um verbo que acaba demais!

Zuba









quarta-feira, 9 de julho de 2014

o oiá




"Olhar é antes do mais olhar um olhar.
 Se o olhar não olhasse um olhar, apenas veria. 
Mas se olha, é porque espera um movimento de retorno” 


(GIL, 1996, p. 48).

Um movimento de retorno ...


sexta-feira, 4 de julho de 2014

quinta-feira, 3 de julho de 2014

sem fim



antes de deitar quer escrever
numa daquelas tentativas de ser
ser pra ser
pra saber que se é
sem saber por que
por quem
nem pra que

dormir só pra conhecer o meu eu
que o dia não me mostrou
que ficou escondido no sono
que a noite guardou

o meu eu que vive
dentro de mim
dos oto
e de todas as cenouras 

reflete branco
absorve laranja
numa coerência duvidosa
mas que dá alegria funcional às células

porque existir é feliz
mesmo sem saber o gosto e detalhes de cada ponta de sorriso
um sorriso às vezes frouxo
frouxo por não querer se fixar
não querer por não saber
mas nunca por não poder

o teu poder se faz em mim
numa curiosidade lagartinha
que brota no chão
e vai parar no céu

o céu que acaba na noite
e volta no dia
acaba na noite
volta no dia
o céu que nunca acaba
de acabar.

Zuba