sexta-feira, 9 de novembro de 2012

na fazenda é bom ..





Nem parece que eu já morei aqui ... sinto tanta falta de tudo que completa a vida na roça. A ausência de complexidade, de vaidade, tranquilidade danada, e, principalmente, nada - ou quase nada - de egoísmo!
Levantar de madrugada, subir o morro do arrependido só pra pegar o abacatão e ir estudar na cidade .. Bom, às vezes a gente enfrentava era aquela kombi véia com aquela porta que caía sempre e mais um pouco (não era mole, não!) Ocê abria a porta pra sair do automóvel e a danada vinha junto, saía do trilho!! Mas como era divertido!!
Daí eu chegava em casa toda pintada com aquela poeira que eu nem percebia, cumprimentava aquele monte de bicho que tava no meu caminho (nastrô magário, fofuxa, spike, bidu, marie, frank aguiar, cherie, floquinho e mais uma renca...) entrava pela área do fogão à lenha, sentia aquele cheirinho de comida da roça e ia logo comer! Comia pra dedéu, comia de véu e grinalda!!!! Meu Deus, como era gostoso viver na roça!
Depois do almoço eu nem pensava em dormir. Lá eu não era preguiçosa. Eu me metia no meio do mato junto com aquela bicharada e montava minha casinha entre uma árvore e outra. Inclusive construí uma humilde residência num amontoado de mato que ficava bem defronte da casa oficial. Era chique o trem! Eu tinha até um celular da novela, só que ele era um pedaço de toco que tava jogado no meio do tudo! Tinha uns banquinhos de madeira improvisados, uma caixa de queijo virada pra baixo servindo como mesinha e vamo que vamo! Ah, pra nao marcar bobeira, a gente pendurava também uma nos galhos pra mió servir às galinhas chocadeiras. Vez ou outra aparecia uns ovos pra recolher. Pegava o que tinha ali, deixando, claro, sempre um .. assim mandava a lei!
Era muito legal sair caçando ovo no meio das moitas. Os zóio até briava quando eu via aquele monte de ovo escondidim em cada lugar que oceis nem imagina!! E quando eu achava uns 12, 13, 14 de uma vez!!! Que me perdoem, mas eu não tinha dó! Chacoalhava pra ver se num tava chocando e, caso não tivesse mesmo, botava tudo dentro da camisa e saía correndo pra mostrar o tesouro. Com certeza dali sairia um belo dum bolo ou uma danada remessa de pão de queijo, tudo preparado pela mamãe!
Quando apontava 18h tinha que fechar as janelas porque senão vinha aquele monte de morcego querendo abrigo dentro de casa. Mas era uma luta!!! O duro era quando juntava aqueles bichim das lâmpida! Meu deus!!!! Eles se enfiavam dentro de casa e não saíam de jeito nenhum .. e quem disse que a janela podia ficar aberta? Se abrisse entrava tudo que era bicho pra dentro de casa! Danado!! Daí ficávamos lá naquela cozinha gigantesca contando causos ... causos .... causos .... a gente ria era de felicidade.
Campaínha? Carecia não ... Lá do alto do morro a gente enxergava todo mundo que tava descendo lá pras terras. Quando as férias chegavam os parente que viviam em sumpaulo (cidade com semáforo) ia tudo lá ver a gente! O ver era a certeza. Era uma farra doida.
Uma vez a primaiada danou de fazer bolos de lama lá num chão cimentado que ficava nas redondezas de casa. Pensa na zona!!!! Caiu tudo no chão depois! Foi legal aquele dia.
Sem falar de quando a gente pegava aquela bicicletinha nadavê do Peron e descíamos sem freio naquele tenebroso "buraco da morte". Tinham também aquelas vezes em que a gente catava - de novo - a caixa de queijo ou um papelão qualquer e descíamos no nosso escorregador de areia, este sendo fruto duma construção que teve por lá.
Era cada tombo doido ...
Voltávamos tudo encardido pra dentro de casa. Aquelas laje tudo suja!!! Camisa um horror, mamãe sofria!

Eu tenho muitas memórias legais desse tempo em que vivi lá na roça! Eu acho que todos deveriam viver pelo menos uma vez na vida num lugar como esse ... Conhecer de pertim o nome que se dá a um monte de trem que hoje em dia a gente nem sabe ondé que foi parar ...

Hoje morando aqui nessa cidade grande, cheia de carro, de gente, de semáforo, duns trem doido, eu tô quase me convencendo de que descobrir um mundo maior às vezes é muito perigoso .. quando a gente se vê, já foi quase tudo! daí fica sobrando aquele nada que soma com nada e que junta com mais um tiquim de nada que tava ali escondido no canto da nossa saúde.
Aqui às vezes me decepciona ... a gente vê uma corrosão de personalidade muito triste, algo que desanima de verdade!
Eu espero, sinceramente, nunca perder todas essas lembranças que revelam parte da minha essência. Desejo profundamente que o egoísmo passe longe de nós e, caso ele já teja aí, torço pra que ele dê meia volta e suma, vá lá pros cafundó de judas! O individualismo é feio e me deixa com uma cara mais horrorosa ainda! Some com esse trem de perto de mim!

Nenhum comentário:

Postar um comentário