quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

tropicalismo? quê? onde? quando?




Para muitos, uma incógnita

  Passei um bom tempo pesquisando e estudando o Tropicalismo, este sendo um movimento cultural muito interessante que surgiu aqui no Brasil no final dos anos 60. Fui atrás e me apaixonei pelas propostas que não tinham cara de propostas e, principalmente, pela não alienação que tinha cara de alienação.
  Tendo como cenário um País em plena ditadura militar e, na música, uma galera da Bossa Nova fazendo som de e para a Elite, fica fácil imaginar o furdunço que esses tropicalistas esteticamente confusos causaram por aqui.
  
  Tudo começou em 1967, numa das edições daqueles famosos Festivais promovidos pela rede Record. 
Gilberto Gil, moço todo misturado das ideias e já convencido de que baião e Beatles tinha tudo a ver, apresentou-se acompanhado pelos Mutantes e por uma desafiadora guitarra elétrica, esta sendo sinônimo da dominação norte-americana sobre o Brasil e, por isso, alvo de passeatas.

  Vaias
Vaias
 Vaias

 Até chegar Caetano Veloso e repetir a dose.

  Vaias
Vaias
 Vaias.


  A partir daquele momento, eles conquistaram algumas coisas:

* O desprezo dos grupos de esquerda - nacionalistas ao extremo
- "bando de #$@ !$% de americano"

** O receio dos grupos de direita
- "seriam os tropicalistas uma nova espécie de esquerda nacional?"

** E a percepção de que tinham de meter o louco mesmo naquela cambada de engomadinhos. Afinal de contas: "Vocês não estão entendendo nada, absolutamente nada!!"


  E foi isso que eles fizeram!
  Pegaram a arte plástica de Hélio Oiticica, o cinema de Glauber Rocha, a musicalidade presente nos mais diversos cantos do Mundo e a literatura, esta sendo muito bem representada por correntes literárias modernas e elementos do Manifesto Antropofágico elaborado por vanguardas do naipe de Oswald Andrade e Tarsila do Amaral. 
  A galera da Tropicália fez valer as mais diversas expressões de arte, mostrando, curiosamente, que limites tratava-se de um fator comum apenas entre os que defendiam e os que lutavam contra a dona Ditadura. 
  Vivendo sobre o Mundo e sob ele, a turma do movimento foi curtindo a situação. Fizeram questão de desnacionalizar o cenário musical brasileiro e também de atingir a cultura de massa, tanto que foram ao programa do Chacrinha, um dos símbolos de alienação da época. 



  Hoje, passados alguns bons anos, apenas e tão somente para acalmar o coração dos que vivem por tópicos, podemos estipular alguns objetivos do Tropicalismo:

- Desnacionalizar a cuca e a cultura;
- Não fazer denuncias unica e exclusivamente através de músicas (à la Vandré) e sim via vestuário e atitudes aparentemente alienadas, alheias à situação politica do Brasil;
- Produzir cultura massificada.


  O Tropicalismo costuma ser um tema embaraçoso justamente porque não foi algo que seguiu e surgiu a partir de um roteiro. Aparentemente, a turma tinha somente uma noção de que misturar, além de ser legal, era preciso (e continua sendo). A revolução era discreta e, por isso, incomum. Acontecia nos momentos em que eles deixavam de falar no politiquês e apelavam pra língua da arte sem fronteiras.
  Usando roupas extravagantes, neologismos, caras e bocas e virando as costas pra falta de essência de quem se diz ser muita coisa, os tropicalistas colocaram de forma muito mais eficiente o dedo naquela ferida causada pela intensa entrada de industrias transnacionais no governo JK (burguesia = cultura restrita) e continuada pela Ditadura Militar.





(O "hino" do Tropicalismo)




"Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa. Eu hoje vim dizer aqui, que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê-la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu! Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker! Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês. O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de charleston. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar por ser americana. Mas eu e Gil já abrimos o caminho. O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso! Eu quero dizer ao júri: me desclassifique. Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso. Gilberto Gil. Gilberto Gil está comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem… se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! junto com ele, tá entendendo? E quanto a vocês… O júri é muito simpático, mas é incompetente. Deus está solto! Fora do tom, sem melodia. Como é júri? Não acertaram? Qualificaram a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, hein? É assim que eu quero ver.
Chega!"

(Famoso discurso de Caetano Veloso "É proibido proibir" 
dedicado aos jovens mais-que-perdidos de esquerda)





    Eu tenho meus motivos pra ser totalmente encantada por esse Mundo criado pelas personalidades que integraram o Tropicalismo. Foi um movimento que durou pouco tempo, pois fora abafado pelo exílio de Caetano e Gil. No entanto, me vejo em cada ligeira despreocupação camuflada e, ao mesmo tempo, tão bem direcionada e articulada desse povo que, por miúdos, nas palavras cheias de ironia de Tom Zé: "só fizeram prejudicar o Brasil". 



Viva o Tropicalismo, pois ele é mais atual do que sonha a sua vã filosofia.

  

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