muita coisa rolou nos últimos meses ..
atualmente tô trampando num caps infantojuvenil aqui perto de casa, to em fase de conhecimento, ainda me entrosando com a galera .. sinto a necessidade de estacionar por um tempo para aprender um pouco mais sobre esse trampo na saúde mental num serviço da raps.
no mais, sou ainda muito apegada à rede e às histórias que acompanhei na leste. hoje uma defensora disse que fui lembrada com carim por i, quando questionado sobre em quem confiava. é tão bão deixar essas marcas e não permitir que elas se percam no tempo.
há ainda muito trabaio a ser feito.
ler esta mensagem foi o incentivo que precisava para seguir com minha proposta de mestrado, que anda aos trancos e barrancos (pelo menos acabei de finalizar o ultimo trabalho para disciplina obrigatoria).
mas ultimamente é o caso de e. que tem mexido muito comigo.
e. é um jovem de 18 anos com diagnostico de esquizofrenia. ele tem alucinações auditivas que tem se intensificado nos ultimos meses. no momento, encontra-se confinado em casa, apenas rezando e repetindo estar confuso demais pra viver ou experimentar qualquer coisa nova, diferente ..
hoje liguei pra ele .. foi a primeira vez que a conversa foi com pausas. estava angustiado, com pressa para desligar, mas também com vontade de seguir com algum padrão de vida que se permite encontrar.
ele mexe comigo ..
é super crítico, diz que uma de suas maiores qualidades "é entender da vida" .. e brinco com ele, pedindo pra que "não queira entender demais .. senão fica chato".
desta vez ele nem riu.
estive pensando em casos que acompanhei ainda antes de me formar como terapeuta ocupacional. eu tenho a marca de me envolver demais e tento manter um olhar crítico sobre isso .. sobre limites terapeuticos e sobre como por vezes eu ultrapasso significativamente essas bordas.
eu me misturo no processo .. criamos, juntos, afetos, e aprendemos com eles.
há a permissão para que o imprevisivel aconteça, contando sobretudo com ele.
eu uso meu corpo, eu empresto meu corpo de terapeuta para que a pessoa descubra e se lance ao mundo, às outras pessoas. para transpor uma barreira que tá ali.
na ultima sexta, saí com e.
falei: hoje não vamos ficar aqui. vamos sair.
fazia mais de um mês que ele não saia de casa para andar na rua.
tomamos sol. por fim, ele aceitou tomar sorvete e se viu conversando sobre outras coisas que não as vozes. reconheceu, da propria boca, a sua força. "elas pedem para fazer coisas ruins, mas eu não faço".
por um tempo, a realidade acontecia fora de sua mente ..
na segunda, foi à academia.
na terça, não conseguiu subir ao consultório médico.
na quinta, não conseguia falar comigo.
e agora não consigo parar de pensar nele.
zuba
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